Alimentos Orgânicos são de fato mais caros?
Alimentos orgânicos são de fato mais caros?
Essa pergunta já deve ter surgido em alguma roda de conversa com amigos quando o assunto sobre sustentabilidade e alimentação consciente e orgânica está em pauta.
Alguns preferem falar do valor dos produtos orgânicos, em vez de falar do preço. Mas, na prática, os consumidores se importam, e muito, com o preço, e é preciso enfrentar essa questão.
Há vários motivos para o orgânico ser mais caro que o convencional. Um deles é a baixa escala de produção: quanto maior a quantidade produzida, menor o custo unitário. Isto é matemático. Para ter lucro, o produto – seja orgânico ou convencional – tem que apresentar margem de contribuição (receita líquida menos custos variáveis) que pague os custos variáveis, os custos fixos, as despesas (de administração, de vendas, financeiras e outras), e ainda garanta lucro para o agricultor.
Para se ter a certificação e o selo Orgânico o é preciso seguir uma série de critérios ambientais e sociais, o produtor orgânico tem que se comprometer com a preservação do meio ambiente e com a qualidade de vida de seus empregados, oferecendo condições de moradia dignas e mantendo seus filhos matriculados na escola, por exemplo. Além disso, todo o processo para se obter o selo Orgânico é exorbitantemente caro, ainda mais para realidade de pequenos produtores, e uma vez feito, esse custo será recuperado no valor de comercialização dos produtos. Produtores convencionais não precisam de nada disso.
Pensando sobre a diferença de preço entre alimentos orgânicos e convencionais, grupos e institutos de consumo como o Instituo Kairós e a ONG Terra Mater realizaram a seguinte pesquisa: “Alimentos sem veneno são sempre mais caros?”.
O trabalho foi executado de forma colaborativa e voluntária. Foi realizado um levantamento de preços de produtos convencionais e orgânicos em supermercados, feiras orgânicas e grupos de consumo responsável (consumidores que se juntam para fazer compras coletivas diretamente do produtor) por um ano em 5 cidades do país. A conclusão da pesquisa é de que a diferença de preço depende muito do canal de comercialização. Confira a pesquisa aqui:
Nossas lavouras consomem um milhão de toneladas de agrotóxico por ano, uma média de 5,2 kg de agrotóxico por habitante. Enquanto isso, a Dinamarca se prepara para transformar 100% de sua agricultura em orgânica com metas realistas: a primeira fase acontece até 2020, quando a quantidade de terras com plantações orgânicas deve ser o dobro da quantidade atual.
Por aqui no Brasil os incentivos governamentais só chegam para os produtores que usam agrotóxicos (isenção de IPI e redução de 60% do ICMS). Os produtores de orgânicos não têm nenhum desses benefícios.
Se alimentos vegetais orgânicos são mais caros nos supermercados, deveríamos questionar por que os convencionais e os ultra-processados são tão baratos! Além dos incentivos fiscais já citados, esses produtos não consideram fatores externos como, por exemplo, os danos a saúde dos trabalhadores rurais. Isso quer dizer que o impacto social e ambiental dessa produção não se reflete no preço. A conta é deixada para nós pagarmos, em forma de impostos para remediar os danos causados por este modelo. A escolha entre um e outro pode ser uma escolha política, onde o consumidor decide qual modelo de produção e de negócio prefere financiar.
Atualmente, no mercado de orgânicos brasileiro, a grande maioria dos produtos apresenta boa margem de contribuição, mas a quantidade vendida não tem sido suficiente para cobrir custos fixos e despesas, e ainda sobrar algum dinheiro para reinvestir na produção e viver dignamente.
Então, por que não se produz e se vende maior quantidade de orgânicos? Há também vários motivos.
A demanda, embora esteja crescendo, ainda é pequena. A baixa renda da maioria da população brasileira leva o consumidor a comparar preços, e aí se cria um círculo vicioso para o produto orgânico: preço mais caro, poucas compras, pouca produção, preço unitário maior, e o círculo se fecha.
Vegetais orgânicos, muitas vezes, também têm produtividade menor que a dos convencionais. Entretanto, sucessivas análises da Anvisa mostram contaminações bem acima do permitido ou ainda, usando produtos proibidos, com alto índice de toxicidade para seres humanos e para o meio ambiente em alface, banana, pimentão e cenoura convencionais, e nem precisamos falar do morango, entre tantos outros.
Menor produtividade aumenta o custo unitário do produto. Mas não queremos produtividade a qualquer custo. Queremos saúde para as pessoas, plantas, animais e para o planeta.
O preço de um alimento mais “barato” está sendo pago pelo esgotamento dos recursos naturais (solo, ar, água, fauna e flora) e também pela saúde das pessoas que os consomem, que adoecem cada vez mais. Fusões de empresas como Bayer (gigante do setor farmaceutico) e Monsanto (gigante do setor agronegócio) demonstram claramente o interesse em lucrar com a saúde das pessoas, produzindo alimentos que não proporcionam saúde e remédios para manutenção de doenças.
Quanto você acha que o produtor do pé de alface, vendido por pouco mais de R$1,00 nos grandes supermercados, recebe financeiramente pelo trabalho e tempo investidos no cultivo? O valor é irrisório e faz com que a escassez aumente ainda mais, desencadeando uma série de desequilíbrios sociais e ambientais. O produtor usa ainda mais agrotóxicos para “render mais” com a sua produção e assim poder “receber mais” e o consumidor, em busca de economia, continua alimentando a estrutura das grandes marcas de mercados, que por sua vez pressiona o produtor e assim sucessivamente.
É preciso uma mudança de paradigmas e para isso as pessoas precisam de informação, educação, conhecer seus direitos e se apoderarem do poder de escolha, direcionando seus recursos para consumir e incentivar iniciativas que vão a favor da preservação da vida, da natureza e da saúde. O consumidor tem o poder de escolha, que esta seja consciente!
O valor que o cultivo orgânico gera para o planeta, para os ecossistemas, para preservação e manutenção da natureza e dos recursos naturais (terra, ar, água, fauna e flora) são incalculáveis financeiramente. Não há preço que pague a perpetuação da vida e das espécies! Não há preço que pague a riqueza da biodiversidade! A moeda de troca é valor!
Sem natureza, não há vida… sem biodiversidade, não há natureza!
Fontes:
https://www.insectashoes.com/blog/organicos-sao-mais-caros/
https://organis.org.br/por-que-os-produtos-organicos-sao-mais-caros/