Solo, Alma e Sociedade... - Rancho Orgânico

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Solo, Alma e Sociedade…

Rancho Orgânico

Tudo vem do solo e para ele retorna.
O alimento que sustenta a vida vem do solo.
A água que nutre a vida está dentro do solo.

A terra é a metáfora para todo o sistema da natureza, se cuidarmos do solo, o solo cuidará de todos nós. Através do solo estamos todos relacionados e interconectados. Somos sustentados e nutridos pela terra. Dependemos da terra. Todos os seres vivos dependem da terra, que trata todos os seres vivos com igualdade.

Infelizmente, as ciências, a tecnologia, a economia e a filosofia se desenvolveram de tal forma nos últimos séculos que condicionou uma visão deturpada de superioridade e imposição da espécie humana sob todas as outras.

A luta contra a natureza foi travada ao longo da era industrial, devido a convicção do homem de que a função da natureza é servir de combustível para a economia de consumo.

A palavra natureza significa nascimento. Natal, natividade, nativo, natureza, todas vem da mesma raiz. Tudo que nasce e morre é natureza, logo natureza e os seres humanos são uma só coisa. Por isso é tão óbvio compreender que tudo que fazemos à natureza, fazemos a nós mesmos. Tudo está ligado.

Quando a natureza é vista como máquina inanimada, ela se torna objeto de exploração, ao passo que quando é vista como sagrada, ela se torna fonte de inspiração.

A humanidade não está em conflito apenas com a natureza, mas consigo mesma. Os valores de lucro, poder controle e ganância regem a maioria dos políticos e industriais. A propaganda seduz a maioria das pessoas, que sonham com um estilo de vida consumista, confortável e extravagante.

Numa cultura em que o egoísmo é promovido como valor principal, seria natural perguntar: por que abrir mão dos meus próprios interesses? A resposta é bem simples… porque a sociedade baseada em consumo é simplesmente insustentável e levará ao colapso.

A mudança começa por um modo amplo e positivo de pensar. É preciso fazer as pazes com a natureza, com nós mesmos e com os outros. Enquanto quisermos que o mundo seja o mesmo, ele continuará sendo regido pelo medo, desconfiança, competição e exploração. Motivados pelo desejo desenfreado e visando um crescimento econômico ilimitado, continuaremos a investir o nosso tempo escravizando a natureza e por consequência, escravizando a nós mesmos.

Se queremos fazer as pazes com nós mesmos, com a natureza e com os outros, é preciso olhar para o nosso relacionamento com o trabalho. É necessário começar a pensar em nossa vida diária. Que tipo de trabalho fazemos? Quantos de nós fazem seu trabalho sem prejudicar a natureza? Quantos de nós trabalha com alegria, com senso de realização e satisfação interior?

A saga do crescimento econômico

Vivemos uma explosão de consumismo, continuamos obcecados pelo “crescimento econômico” e pelo consumo fulges. Toda nossa energia, inteligência e pesquisas estão voltadas para o aumento do consumo. O tempo dos governantes, políticos, legisladores e mídia é dedicado à promoção do crescimento econômico. Os países industrializados precisam superar essa obsessão. Já temos o suficiente. Se não soubermos reconhecer o que é suficiente, nada nos bastará, pois não há limites estabelecidos. Precisamos partilhar o que temos de forma mais equitativa.

O crescimento econômico às custas do patrimônio natural tem um limite. Para a atual governança a prioridade é construir mais estradas, mais aeroportos, mais prédios, mais conjuntos habitacionais… cuidar e proteger a natureza é visto como um luxo que relegaremos a tempos melhores ou como algo supérfluo que vai contra o progresso e emancipação.

Mas o que faremos quando cobrirmos toda terra com concreto, parques industriais, shopping center, quando derrubarmos todas florestas para dar espaço para mais aeroportos, estradas e outros empreendimentos urbanos ou do agronegócio? Cedo ou tarde chegaremos a um ponto de saturação.

Portanto, é preciso pensar num sistema econômico inteligente, integrado e durável, que possa prover o sustento e bem estar para todas as pessoas e seres, não só para uma geração, mas para sempre. Uma economia cíclica, que garante a manutenção e preservação dos recursos naturais, que faça uso de energia limpa e renovável, que seja projetada para uma escala humana e regional.

A verdade seja dita… o mundo não está em uma crise econômica e a terra ainda produz alimentos. O que estamos enfrentando é uma crise ética. A humanidade se desencaminhou. Portanto, a resposta para a mudança não está em mais dos mesmos velhos paradigmas, em mais da mesma economia industrial e dependente de combustíveis fósseis, e sim na busca de uma economia de baixo carbono, sustentável, natural e orgânica.

Novo paradigma versus velho paradigma

Na visão do velho paradigma, a economia se baseia no princípio da linearidade: tome, use e jogue fora. No novo paradigma, a economia será cíclica, como na natureza: tome com gratidão, use com moderação, reponha tudo o que for tomado e coloque as sobras de volta na terra como compostagem. Sem desperdício, sem poluição e sem esgotamento.

Pelo novo paradigma, o que importa é a qualidade de vida, não a quantidade de posses. O que importa é a saúde, a criatividade, cultura, alimento, família e tempo para ser, em vez da luta constante para ter. A pequena realidade é valorizada e celebrada… uma cultura da agricultura, o cuidado com as áreas rurais e com a integridade das comunidades, a conservação da natureza e renovação das habilidades manuais e modos de produção artesanal são supremos.

A monocultura e uso de agrotóxicos extremamente nocivos à natureza lideram o caminho do velho paradigma… A nova visão, por sua vez, atribui papel central à diversidade cultural, e a biodiversidade é essencial às organizações sociais.

O velho paradigma é mecanicista, hierárquico e se baseia no controle, seja ele exercido pelo poder das forças militares, ou do dinheiro ou do conhecimento. Esse controle sobre os outros está enraizado na educação, na governança e nos sistemas econômicos.

Pelo novo paradigma a Terra é Gaia, um organismo vivo, uma comunidade biótica, um sistema vivo autorregulador e autossustentável, baseado em rede onde todos os seres são inter-relacionados e são ligados através de uma evolução e origem comuns. Nessa nova visão pratica-se o conceito da participação. As pessoas participam do processo da vida. Elas seguem o fluxo e estão abertas às formas e padrões da natureza em constante mudança.

 

 

Fragmentos extraídos do livro Solo, Alma, Sociedade: uma nova trindade para o nosso tempo – Satish Kumar

 

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